Como cristão e teólogo, gostaria de reagir às colocações do colunista Hélio Schwartsman, publicadas na Folha em 21/9 ("A mulher de Cristo", "Opinião", 21/09/2012 - 03h30), lançando dúvidas sobre a existência histórica de Jesus, por causa de um suposto papiro copta do século 4.
Não pretendo acirrar uma polêmica, como se a existência histórica de Cristo dependesse disso. No entanto, exigir que os Evangelhos tenham sido escritos como se fossem história ou biografia segundo os padrões da ciência moderna é ir longe demais e tentar com a ciência moderna desconsiderar o fato mais importante que mudou a história do mundo, e mais do que igrejas, construiu civilizações e respondeu ao anseio de milhares de pessoas em busca de vida.
Os Evangelhos são obras de fé dirigidas à fé. Por isso é natural sua preocupação apologética, doutrinal e catequética. A pergunta é se alguém que tivesse sido o inventado poderia inspirar tudo isso e atingir tão grande credibilidade?
O tempo se encarrega de apagar o que não tem consistência, pois uma ideia viva não se constrói do nada, e dois mil anos é um tempo considerável. Aliás, se formos usar os critérios da ciência moderna para justificar a existência histórica de tantos personagens, o que sobraria deles?
Então por que toda essa preocupação em lançar dúvidas sobre a existência histórica de Jesus, precedidas ainda de outras dúvidas que discordam da forma como os Evangelhos apresentam o perfil de um pregador celibatário e abnegado, que entregou sua vida na cruz, para que todos cressem que ele é o Messias prometido pelas Escrituras, segundo as quais Deus é amor.
Mais duvidoso do que a existência histórica de Jesus é a consistência do tal papiro copta que gerou a crítica que lemos na Folha e em outros meios midiáticos.
Padre Valeriano dos Santos Costa, é diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP e doutor em Sagrada Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico de Roma
Fonte:Folha
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