quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Indiana declarada morta pelo marido ganha batalha de 24 anos para provar que está viva

Uma indiana conseguiu este ano comprovar às autoridades que não havia morrido, após passar mais de duas décadas em uma batalha contra a burocracia do país.

Asharfi Devi, hoje com 64 anos, se casou aos 12 anos de idade, foi mãe aos 19, foi abandonada pelo marido aos 23 e declarada morta aos 40.

Sua luta finalmente terminou em vitória em maio, quando o tribunal municipal do vilarejo em que mora - Barun, no distrito de Rohtas, no Estado de Bihar, norte da Índia - decidiu que ela está, de fato, viva. Os pais de Devi casaram a filha com um fazendeiro da região, Ram Janam Singh, em 1960.

No interior da Índia, casamentos são raramente registrados e Asharfi Devi não tem documentos para provar o casamento. Ela tem apenas uma vaga lembrança de que tinha em torno de 12 anos quando se casou.
O que ela parece lembrar bem é sua alegria ao ser vestida com o sári de noiva, em vermelho vivo, e das canções de filmes indianos que saíam dos alto-falantes instalados em cima de um tronco do lado de fora da casa de seus pais.



Choque


A alegria de Devi, no entanto, não durou muito.

Pouco depois do casamento, ela foi surpreendida ao descobrir que era a segunda esposa do marido. Ram Janam Singh tinha sido casado antes e a primeira esposa, Jhalakia Devi, havia morrido.

Aos 19 anos, Asharfi Devi tornou-se mãe de uma menina. Por volta desse período, ela relata, o marido havia passado a abusar dela, física e mentalmente.

"Quatro anos após o nascimento de minha filha, meu marido nos abandonou, então, fui viver com meus pais", ela contou.

Anos mais tarde, Devi conseguiu que a filha, Bimla Devi, se casasse com Anil Kumar Singh, um vendedor de frutas e legumes. O pai e a mãe de Devi pagaram pelo casamento.

Asharfi Devi contou que seu mundo se partiu em pedaços quando descobriu que o marido havia obtido, em um tribunal no distrito de Sasaram, um certificado falso declarando que a esposa estava morta. Ele também havia se casado novamente, agora pela terceira vez.

Segundo Devi, o objetivo do certificado era impedir que ela tivesse qualquer direito sobre as propriedades do marido. O certificado de óbito foi emitido em 30 de dezembro de 1988.

"Aos 40 anos de idade, fui declarada morta, oficialmente", afirma.
Batalha Solitária

Assim teve início a longa luta de uma mulher para provar que estava viva. Ela procurou a polícia, políticos e tribunais.

"Bati em todas as portas, da polícia ao tribunal, mas ninguém podia provar oficialmente que eu estava viva, apesar de estarem convencidos de que eu estava viva".

Para dar prosseguimento à sua batalha, Devi foi viver com a filha e o genro em uma cabana na cidade, a meio quilômetro de distância da casa do marido.

Ela diz ter sofrido ameaças do marido e da nova esposa, Subhago Devi.

"Ele até conseguiu que eu fosse parar na prisão, me acusando de envolviment
o em um roubo ocorrido em 1993, 94".

"Ele estava transferindo todas as suas propriedades para seu nome e o nome de sua terceira esposa após provar que eu estava oficialmente morta", disse Devi.

Desesperada, ela abriu um processo na prefeitura da cidade no ano passado, alegando que estava viva.

Durante oito meses, o Conselho da prefeitura analisou todas as provas. Em maio último, convidou Asharfi Devi, seu marido e membros da família, moradores da vila, policiais, autoridades do governo local e jornalistas para o dia do julgamento.

"Após examinar todos os fatos de provas, o Conselho da vila trouxe justiça para Asharfi Devi ao declarar que ela estava viva", disse a chefe do Conselho, Sandhya Sinha, à BBC.

A decisão trouxe algum alívio a Asharfi Devi: "Agora tenho papéis para provar a minha existência. Eu não estou morta".

"É como se minha mãe tivesse renascido", diz sua filha, Bimla Devi.

O marido de Asharfi Devi, no entanto, continua a negar sua existência.

"Asharfi Devi morreu em 1988", ele disse. "Não sei por que esta mulher está dizendo que é minha esposa. Pergunte a ela, o que eu posso dizer?"

fonte:DP

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