sábado, 24 de novembro de 2012

Rabino tenta provar que neurociência pode explicar a fé

O cérebro desempenha um papel importante na maneira como as pessoas estabelecem sua relação os outros e nele residem as questões morais. Embora essa declaração seja esperada de um cientista, analisar como o cérebro processa a relação com Deus é o desafio do rabino Ralph Mecklenburger, do Texas, que escreveu um livro sobre o assunto recentemente.

“Nosso cérebros determina tudo o que fazemos”, disse Mecklenburger, que além de liderar a Congregação Beth-El, na cidade de Fort Worth, também é professor na Brite Divinity School, uma universidade cristã. “Nosso cérebro estabelece que tipo de arte ou de música gostamos. Ele definitivamente também molda a nossa religião”.No seu livro, “Our Religious Brains: What Cognitive Science Reveals About Belief, Morality, Community and Our Relationship With God” [Nossos cérebros religiosos: o que a ciência cognitiva revela sobre crença, moralidade, comunidade, e nosso relacionamento com Deus], ele afirma: “As nossas crenças, a nossa espiritualidade, nosso senso de comunidade, nossa relação com as pessoas e com Deus não são menos dependentes de nossos cérebros que atividades triviais como ler, rir, exercitar, resolver problemas, amar e tudo o mais o que fazemos”.

Mecklenburger tornou-se interessado no funcionamento do cérebro muitos anos atrás, quando seu filho, Alan, foi diagnosticado com transtorno de déficit de atenção, aos 5 anos. “Eu queria saber como o cérebro do meu filho era diferente dos outros”, disse.

Alan fez um tratamento e hoje é um consultor de informática formado pela Universidade do Texas, em Austin.

O rabino começou a ler muito sobre a neurociência e se apaixonou pelo assunto. “Eu encontrei este material fascinante, porque nos ajuda a descobrir quem eu sou e quem você é. Realmente, algo incrível. Há cerca de cem bilhões de neurônios em seu cérebro. Todos estão interligados. É aí que a surge nossa consciência. Um verdadeiro milagre”.

Entre as pesquisas citadas, estão as do Dr. Andrew Newberg e do falecido Eugene d’Aquil, que usaram imagens tomográficas para estudar o que acontece dentro do cérebro de religiosos meditando e rezando, incluindo monges budistas, padres e freiras. Curiosamente, os dois grupos demonstraram um fenômeno semelhante: menor atividade na parte traseira superior do cérebro, que nos orienta no tempo e no espaço.

Quanto mais profunda era a meditação, os monges diziam se sentiam mais integrados ao universo. As freiras, durante a oração intensa, diziam sentir um contato mais íntimo com Deus.

“O fato é que eles perderam a distinção de tempo e espaço e começaram e imergir em outro estado de consciência”, disse Mecklenburger. “Ao sentir essa ‘conexão’, revelaram algo que a física moderna já é capaz de explicar”.

O mais importante, disse ele, é que o estudo mostra que algo realmente diferente ocorre no cérebro durante qualquer experiência espiritual. Essa investigação científica sobre oração, a meditação e outras práticas sagradas não diminui a importância da religião, ressalta o rabino. Ele também defende que nossa estrutura cerebral “nos predispõe para encontrar a fé”.

“Faz parte de nossa natureza sentir temor diante deste grande universo e encontrar maneiras diferentes de lidar com ele. Uma dessas formas é a religião. Nossos cérebros exploram inúmeras possibilidades do que é a vida. As mais complexas são as religiosas. É a religião que nos aponta a principal maneira de ver mundo e dar sentido a ele”.

A moralidade básica, segundo ele, é parte essencial do nosso cérebro. O bom comportamento é aprendido com os pais, através de experiências e na igreja. Mas a neurociência indica que a moralidade também faz parte da estrutura cerebral desde que nascemos.

“Há um certo egoísmo básico em todos nós”, disse. “É parte da natureza humana. Nossa tendência é pensar, ‘Quero tudo para mim.”

Ele explica que podemos ‘programar’ nossos cérebros para nos impedir de ceder às tentações (comer mais do que devíamos, ter um caso extraconjugal ou dizer/fazer alguma coisa errada).
“Mas os desejos relacionados a sexo, fome e poder são os mais fortes. Ainda muito frágeis. Às vezes a programação funciona, às vezes não”, enfatiza.

A religião e seus ensinamentos morais ajudariam a dominar esses ‘padrões cerebrais negativos’. “Às vezes é literalmente uma parte do cérebro lutando contra outra parte do cérebro”.

Mecklenburger conclui que mesmo as pessoas que não acreditam em Deus, acabam acreditando em alguma outra coisa. “Nosso cérebro precisa encontrar uma maneira de se relacionar com o mundo… Algumas pessoas acabam usando isso para a política. Outras para a filosofia ou a ciência. Há quem se resuma a usar isso para buscar dinheiro e prazer”. Traduzido de Star Telegram

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