"Está na hora de (a Igreja Católica) mudar", disse à reportagem da BBC Brasil em Roma a turista americana Shannon, de San Francisco, sugerindo o exemplo da escolha de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos como inspiração ao mundo católico.
O Vaticano, porém, não é uma democracia, e "mudança" é um termo usado notoriamente com cuidado e parcimônia pela Igreja Católica que,, nesta terça-feira, dá início ao processo de escolha do seu novo líder, via voto secreto, por um grupo exclusivo de homens com mais de 50 anos - todos nomeados por um dos dois pontífices anteriores, Bento 16 ou João Paulo 2º.
Cento e quinze cardeais de 51 países participam juntos ao longo do dia de vários rituais no Palácio Apostólico em Roma, para depois se reunir a partir das 16h30 (12h30 em Brasília) a portas fechadas na Capela Sistina e fazer uma primeira votação.
As votações se repetem nos próximos dias, sempre duas pela manhã e duas na parte da tarde, até que um dos cardeais presentes receba mais de dois terços dos votos, ou seja, 77 votos.
Neste caso, esse cardeal será abordado pelo cardeal sênior do conclave, o italiano Giovanni Battista Re, com a pergunta, "você aceita sua eleição canônica como Supremo Pontífice?", seguido, no caso de resposta positiva, da pergunta "por qual nome você quer ser chamado?".
O "habemus papa (temos papa)" é anunciado ao mundo, primeiro, com a fumaça branca da chaminé da Capela Sistina e o badalar dos sinos da Basílica de São Pedro e, depois, com a revelação pública do eleito pelo seu nome em latim (no caso de dom Odilo Scherer, seria "Lord Odilonem") através do protodiácono, o francês Jean-Louis Tauran, aos fiéis na Praça São Pedro.
Favoritos.E, assim, o mundo católico terá, provavelmente até o final desta semana, um novo papa.
Como não há "pesquisas de opinião" na Igreja, e já que os cardeais eleitores são rigorosamente proibidos de fazer qualquer comentário sobre suas preferências ou o processo eleitoral, resta ao mundo - e às casas de apostas - confiar nas interpretações de especialistas em assuntos do Vaticano, os "vaticanistas".
Mas eles podem errar feio. Um dos vaticanistas mais respeitados do mundo católico, por exemplo, o americano John Allen, da CNN e do National Catholic Reporter, lembrou, em recente entrevista à BBC, que tinha dito, pouco antes do conclave de 2005, que o alemão Joseph Ratzinger "nunca seria papa".
Os favoritos desta vez seriam o arcebispo de Milão, dom Angelo Scola, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, o húngaro Peter Erdo e o canadense Marc Ouellet.
Dessa pequena lista, curiosamente, o candidato mais identificado com a bandeira de reformar a Igreja - em particular a sua "máquina burocrática", a Cúria, o órgão administrativo da Santa Sé - seria justamente o italiano, Angelo Scola.
A percepção popular, expressa com clareza à reportagem da BBC Brasil nas ruas de Roma, é de que o candidato "da mudança" seria dom Odilo Scherer, pelo simples fato de vir de uma região "nova", "vasta" e "dinâmica", pouco representada na atual estrutura de comando da Igreja.
Scherer começou a despontar como favorito há poucas semanas, indicado por jornais e vaticanistas como candidato de uma poderosa trinca formada pelo Decano do Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano, o cardeal que comandará o conclave e ex-prefeito da Congregação dos Bispos, Giovanni Battista Re, e um suposto ex-inimigo declarado de Sodano, o ex-secretário de Estado Tarcisio Bertone, três figuras fortemente ligadas ao papa João Paulo 2º e que teriam perdido infuência sob o papado de Bento 16.
Os três estariam apostando suas fichas em um candidato "jovem", com boas chances, visto como "moderado" no Vaticano - e "conservador" no Brasil - e que teve contato próximo com Re e Sodano quando serviu na Cúria em Roma, de 1994 a 2001.
"A candidatura do cardeal Scherer pode sinalizar, para fora, uma renovação" diz a revista online alemã Katholisches, "mas que visa, pelo menos para algumas constelações do poder, deixar tudo como está ou mesmo tudo como era antes".
Scola, pelo outro lado, mais próximo a Bento 16, seria o candidato dos cardeais "reformistas" segundo os jornais italianos, pelo que puderam concluir das reuniões pré-conclave do Colégio Cardinalício.
Uma polarização entre esses dois lados no conclave pode acabar abrindo caminho para um terceiro candidato, e é aí que estariam as chances do húngaro Erdo, sergundo John Allen um candidato "com boas ligações com cardeais da África e de alguns países latino-americanos" e "que se mostrou um bom administrador, que sabe ser o suficiente determinado para fazer as coisas andarem", ou do canadense Ouellet, candidato "do Novo Mundo", "homem de grande fé espiritual" e do time dos reformistas.
'Maria-vai-com-as-outras'
A Igreja nunca revelou detalhes sobre os conclaves anteriores, os registros de votações passadas existem, mas são mantidos a sete chaves.
Informações vazadas para a imprensa do diário de um cardeal-eleitor pouco após o conclave de 2005 deram a entender que Ratzinger ganhou após crescer de pouco menos de 50 votos na primeira rodada para 65 na segunda e 84 na terceira, a derradeira, derrotando com facilidade um único rival, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio - que também participa deste conclave.
Um artigo do americano National Catholic Reporter da semana passada cita esses dados para reforçar as conclusões de um estudo publicado em 2006 por uma pesquisadora australiana, J.T.Toman, sobre a psicologia dos conclaves.
Ela analisou padrões de votação com base em dados vazados de conclaves anteriores e concluiu que os cardeais adotam um comportamento na linha "maria-vai-com-as-outras" quando o seu candidato preferido sai do páreo.
A partir do momento em que os votos começam a despontar para um candidato único, a tendência é votar nele.
Duração
A outra explicação, a oficial, é de que o "Espírito Santo" direciona o voto dos cardeais que, pelo menos na Era Moderna, têm sido relativamente rápidos na escolha.
Dessa vez, entretanto, há bons argumentos para prever tanto um conclave breve quanto um mais longo.
O vaticanista do jornal italiano La Stampa, Giacomo Galeazzi, disse à BBC Brasil acreditar que este conclave "será rápido", porque "depois dos escândalos (de abusos sexuais e os supostos casos de corrupção revelados por documentos vazados por um mordomo de Bento 16, no caso conhecido como Vatileaks), a Igreja vai querer mostrar união e os cardeais vão tentar escolher um papa o mais rápido possível".
Já Robert Mickens, colunista em Roma do semanário católico britânico The Tablet, disse à BBC Brasil que este "será um conclave mais longo do que o últimos". "Não há candidatos realmente favoritos. Eles levarão tempo para chegar a um nome, em meio às divisões entre os cardeais próximos à Curia e os que querem reforma".
John Allen disse à BBC acreditar que este conclave seja longo pelo fato de incluir cerca de 50 cardeais que participaram de um conclave anterior. Eles não permitiriam que alguém "direcionasse" ou "liderasse" as discussões, como foi o caso no conclave de 2005 - que tinha apenas dois "veteranos" entre um grupo grande de marinheiros de primeira viagem.
Um debate mais robusto dificulta o consenso, diz Allen.
Desde a entrada no século 20, três conclaves duraram apenas dois dias - entre eles o que elegeu Bento 16 em 2005 -, e apenas dois conclaves (1903 e 1922) tiveram a duração máxima até agora, de cinco dias.
Aqui vale apontar para uma outra diferença importante entre a eleição de um presidente nos Estados Unidos e a de um novo papa: um ganha um mandato por tempo fixo, o outro, um cargo para a vida inteira.
Quando um presidente eleito decepciona, é tirado do cargo após quatro anos. Já um papa só sai se quiser. Fonte:BBC
O Vaticano, porém, não é uma democracia, e "mudança" é um termo usado notoriamente com cuidado e parcimônia pela Igreja Católica que,, nesta terça-feira, dá início ao processo de escolha do seu novo líder, via voto secreto, por um grupo exclusivo de homens com mais de 50 anos - todos nomeados por um dos dois pontífices anteriores, Bento 16 ou João Paulo 2º.
Cento e quinze cardeais de 51 países participam juntos ao longo do dia de vários rituais no Palácio Apostólico em Roma, para depois se reunir a partir das 16h30 (12h30 em Brasília) a portas fechadas na Capela Sistina e fazer uma primeira votação.
As votações se repetem nos próximos dias, sempre duas pela manhã e duas na parte da tarde, até que um dos cardeais presentes receba mais de dois terços dos votos, ou seja, 77 votos.
Neste caso, esse cardeal será abordado pelo cardeal sênior do conclave, o italiano Giovanni Battista Re, com a pergunta, "você aceita sua eleição canônica como Supremo Pontífice?", seguido, no caso de resposta positiva, da pergunta "por qual nome você quer ser chamado?".
O "habemus papa (temos papa)" é anunciado ao mundo, primeiro, com a fumaça branca da chaminé da Capela Sistina e o badalar dos sinos da Basílica de São Pedro e, depois, com a revelação pública do eleito pelo seu nome em latim (no caso de dom Odilo Scherer, seria "Lord Odilonem") através do protodiácono, o francês Jean-Louis Tauran, aos fiéis na Praça São Pedro.
Favoritos.E, assim, o mundo católico terá, provavelmente até o final desta semana, um novo papa.
Como não há "pesquisas de opinião" na Igreja, e já que os cardeais eleitores são rigorosamente proibidos de fazer qualquer comentário sobre suas preferências ou o processo eleitoral, resta ao mundo - e às casas de apostas - confiar nas interpretações de especialistas em assuntos do Vaticano, os "vaticanistas".
Mas eles podem errar feio. Um dos vaticanistas mais respeitados do mundo católico, por exemplo, o americano John Allen, da CNN e do National Catholic Reporter, lembrou, em recente entrevista à BBC, que tinha dito, pouco antes do conclave de 2005, que o alemão Joseph Ratzinger "nunca seria papa".
Os favoritos desta vez seriam o arcebispo de Milão, dom Angelo Scola, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, o húngaro Peter Erdo e o canadense Marc Ouellet.
Dessa pequena lista, curiosamente, o candidato mais identificado com a bandeira de reformar a Igreja - em particular a sua "máquina burocrática", a Cúria, o órgão administrativo da Santa Sé - seria justamente o italiano, Angelo Scola.
A percepção popular, expressa com clareza à reportagem da BBC Brasil nas ruas de Roma, é de que o candidato "da mudança" seria dom Odilo Scherer, pelo simples fato de vir de uma região "nova", "vasta" e "dinâmica", pouco representada na atual estrutura de comando da Igreja.
Scherer começou a despontar como favorito há poucas semanas, indicado por jornais e vaticanistas como candidato de uma poderosa trinca formada pelo Decano do Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano, o cardeal que comandará o conclave e ex-prefeito da Congregação dos Bispos, Giovanni Battista Re, e um suposto ex-inimigo declarado de Sodano, o ex-secretário de Estado Tarcisio Bertone, três figuras fortemente ligadas ao papa João Paulo 2º e que teriam perdido infuência sob o papado de Bento 16.
Os três estariam apostando suas fichas em um candidato "jovem", com boas chances, visto como "moderado" no Vaticano - e "conservador" no Brasil - e que teve contato próximo com Re e Sodano quando serviu na Cúria em Roma, de 1994 a 2001.
"A candidatura do cardeal Scherer pode sinalizar, para fora, uma renovação" diz a revista online alemã Katholisches, "mas que visa, pelo menos para algumas constelações do poder, deixar tudo como está ou mesmo tudo como era antes".
Scola, pelo outro lado, mais próximo a Bento 16, seria o candidato dos cardeais "reformistas" segundo os jornais italianos, pelo que puderam concluir das reuniões pré-conclave do Colégio Cardinalício.
Uma polarização entre esses dois lados no conclave pode acabar abrindo caminho para um terceiro candidato, e é aí que estariam as chances do húngaro Erdo, sergundo John Allen um candidato "com boas ligações com cardeais da África e de alguns países latino-americanos" e "que se mostrou um bom administrador, que sabe ser o suficiente determinado para fazer as coisas andarem", ou do canadense Ouellet, candidato "do Novo Mundo", "homem de grande fé espiritual" e do time dos reformistas.
'Maria-vai-com-as-outras'
A Igreja nunca revelou detalhes sobre os conclaves anteriores, os registros de votações passadas existem, mas são mantidos a sete chaves.
Informações vazadas para a imprensa do diário de um cardeal-eleitor pouco após o conclave de 2005 deram a entender que Ratzinger ganhou após crescer de pouco menos de 50 votos na primeira rodada para 65 na segunda e 84 na terceira, a derradeira, derrotando com facilidade um único rival, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio - que também participa deste conclave.
Um artigo do americano National Catholic Reporter da semana passada cita esses dados para reforçar as conclusões de um estudo publicado em 2006 por uma pesquisadora australiana, J.T.Toman, sobre a psicologia dos conclaves.
Ela analisou padrões de votação com base em dados vazados de conclaves anteriores e concluiu que os cardeais adotam um comportamento na linha "maria-vai-com-as-outras" quando o seu candidato preferido sai do páreo.
A partir do momento em que os votos começam a despontar para um candidato único, a tendência é votar nele.
Duração
A outra explicação, a oficial, é de que o "Espírito Santo" direciona o voto dos cardeais que, pelo menos na Era Moderna, têm sido relativamente rápidos na escolha.
Dessa vez, entretanto, há bons argumentos para prever tanto um conclave breve quanto um mais longo.
O vaticanista do jornal italiano La Stampa, Giacomo Galeazzi, disse à BBC Brasil acreditar que este conclave "será rápido", porque "depois dos escândalos (de abusos sexuais e os supostos casos de corrupção revelados por documentos vazados por um mordomo de Bento 16, no caso conhecido como Vatileaks), a Igreja vai querer mostrar união e os cardeais vão tentar escolher um papa o mais rápido possível".
Já Robert Mickens, colunista em Roma do semanário católico britânico The Tablet, disse à BBC Brasil que este "será um conclave mais longo do que o últimos". "Não há candidatos realmente favoritos. Eles levarão tempo para chegar a um nome, em meio às divisões entre os cardeais próximos à Curia e os que querem reforma".
John Allen disse à BBC acreditar que este conclave seja longo pelo fato de incluir cerca de 50 cardeais que participaram de um conclave anterior. Eles não permitiriam que alguém "direcionasse" ou "liderasse" as discussões, como foi o caso no conclave de 2005 - que tinha apenas dois "veteranos" entre um grupo grande de marinheiros de primeira viagem.
Um debate mais robusto dificulta o consenso, diz Allen.
Desde a entrada no século 20, três conclaves duraram apenas dois dias - entre eles o que elegeu Bento 16 em 2005 -, e apenas dois conclaves (1903 e 1922) tiveram a duração máxima até agora, de cinco dias.
Aqui vale apontar para uma outra diferença importante entre a eleição de um presidente nos Estados Unidos e a de um novo papa: um ganha um mandato por tempo fixo, o outro, um cargo para a vida inteira.
Quando um presidente eleito decepciona, é tirado do cargo após quatro anos. Já um papa só sai se quiser. Fonte:BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário