domingo, 7 de abril de 2013

Estupros ameaçam turismo na Índia

BOMBAIM – Um estupro fatal, em Nova Délhi, não impediu as alemães Carolina De Paolo e Canan Wahner de irem para a Índia em uma viagem de seis semanas. O ataque foi considerado horrível, mas segundo as duas, há crime em todos os lugares. Mas não é assim que pensam todos os turistas. Estudos apontam que o país passou a ser descartado como destino de férias nos últimos tempos.

Livres de uma agressão mais violenta, sofreram outros tipos de abusos. Wahner relata que um homem aproximou-se dela em um trem para Goa e passou a mão em sua perna. Em outro trem, um homem diferente segurou os seios de Carolina.

- Eu queria gritar e fazer alguma coisa, mas fugi - contou Carolina.

Ela nunca registrou o crime, acreditando que não teria resolução. As duas mulheres, ambas de 22 anos, dizem que não se sentiam seguras, mas insistem que devem voltar à Índia. Isso as separa de vários turistas que estão escolhendo não retornar de maneira alguma ao país.

A violência contra as mulheres e a enorme publicidade gerada devido aos recentes ataques ameaçam a indústria indiana de turismo. Um novo estudo mostra que a indústria despencou, especialmente entre as mulheres, desde quando uma estudante indiana de 23 anos foi estuprada em um ônibus em Nova Délhi, jogada do veículo, morrendo mais tarde devido aos ferimentos - um caso que ganhou visibilidade mundial. O governo nega qualquer queda no turismo.
As preocupações só cresceram quando uma suíça relatou que foi estrupada, no mês passado, e depois que uma britânica pulou da janela de seu quarto de hotel temendo que o gerente, que estava tentando entrar no cômodo, abusasse sexualmente dela. O incidente aconteceu em Agra, onde fica o Taj Mahal, uma das principais atrações turísticas do país.

Comerciantes afirmam que a Índia está sendo, injustamente, destacada na imprensa, mas a percepção é tudo no ramo do turismo. Empresas de catering aos turistas já estão sofrendo.

Caiu em 25% a chegada de turistas estrangeiros desde o estupro ocorrido em dezembro, e o número de mulheres viajantes despencou cerca de 35%, de acordo com o estudo feito pela Associação de Comércio e Indústrias. O estudo foi feito com 1.200 operadores de viagens em todo o país e indicou que “preocupações com a segurança das mulheres que viajam” mudaram os planos dos turistas. Em vez disso, eles estão indo para os países vistos como mais seguros, como a Tailândia, o Vietnã e as Filipinas.

Ministro do Turismo, K. Chiranjeevi, contestou, esta semana, a pesquisa dizendo que as chegadas de turistas estrangeiros para a Índia cresceu 1,2% em janeiro e fevereiro. Mas o lojista Mehraj Shora diz que é difícil ver isso quando o seu comércio de tapetes só cai.

- Cada dia está pior - lamenta Shora. - Os turistas estão chegando, mas não como antes.

Em outras épocas, Shora costumava vender dois ou três tapetes da Cachemira por dia para estrangeiros. Agora, há dias que passam sem vender um único. Ele estima que as vendas caíram 50% e diz que os casos de estupro acabaram sendo adicionados à uma economia estagnada.

O comerciante culpa a mídia internacional por dar muita visibilidade para os casos recentes quando ocorrem crimes em qualquer país.

- Na verdade, a Índia é bastante segura. Em alguns aspectos é até mais segura do que outros lugares - afirma.

Ainda assim, tal como o estupro em Nova Délhi provocou um clamor nacional sobre os maus-tratos de mulheres, os ataques a turistas do sexo feminino têm destacado o que há muito se sabe: as mulheres que viajam à Índia, especialmente sozinhas, frequentemente, enfrentam avanços indesejáveis de homens.

Crimes contra turistas acontecem em qualquer lugar. A Tailândia, por exemplo, teve pelo menos três estupros de turistas este ano. Nas Filipinas, um filipino foi preso em janeiro sob a acusação de estuprar uma britânica de 23 anos na ilha de Boracay. Durante o final de semana, no Brasil, uma americana foi violentada e espancada a bordo de uma van no Rio de Janeiro. Ainda assim, na Índia, é particularmente fácil encontrar histórias de estrangeiras que, tal como as indianas, foram perseguidas, seguidas ou assediadas.

A modelo italiana Ginevra Leggeri, de 21 anos, disse que não tinha percebido um homem próximo a ela até que ele a tocou enquanto caminhava com uma amiga em Bombaim, em uma viagem a trabalho há alguns meses.

- Eu estava totalmente coberta. Nós estávamos só andando e esse homem me tocou. Eu comecei a gritar e a bater nele - conta a modelo.

Sua amiga e colega de trabalho, Amy Manson, de 19 anos, rapidamente gesticulou para dois indianos que estavam passando de moto, que pararam e confrontaram o agressor.

- Um rapaz indiano a agarrou, mas logo vieram dois outros indianos e nos ajudaram - relata Amy. - Então, é uma relação de 50% para um lado e 50% para o outro.

Mas Amy hesita quando perguntada se recomendaria a uma amiga viajar à Índia, e concorda que a indústria de turismo será prejudicada se não houver uma ação para proteger as mulheres. No mês passado, o governo assinou leis mais duras contra a violência sexual

- Não é somente a garota em Délhi... Isso vem acontecendo há anos e anos e anos. Isso só se tornou público agora, o que é bom, porque assim talvez as coisas mudem.

Imran Latha, dono da empresa de turismo Visit India, em Bombaim, diz que alguns indianos afirmam que quando veem mulheres bebendo ou usando drogas, eles se sentem ansiosos por sexo. A única solução, para ele, seria as turistas se vestirem mais modestamente e, assim, se protegerem.

- Acredite em mim. A Índia não pode fazer nada. O governo indiano é o pior do mundo. Se a gente não pode proteger as próprias indianas, o que poderíamos fazer para as estrangeiras? - pergunta Latha.

Ao final dos seis meses de viagem. Carolina De Paolo e Canan Wahner afirmam que os incidentes em que se viram envolvidas não serão as únicas coisas que irão lembrar da vasta e rica cultura do país. Mesmo assim, Wahner afirma:

- Agora, depois desta viagem, eu não devo mais viajar sozinha à Índia - diz.

Elas rapidamente aprenderam a tomar precauções: sempre se vestirem modestamente com mangas compridas e calças quando estavam fora das grandes cidades e, raramente se aventurarem fora do hotel depois de escurecer. Ser amigável, mas não muito, com homens e tentar achar indianas para companhia.

- É estranho. Você não quer julgar todo homem que se senta perto de você - pondera Wahner. - Mas, algumas vez, no final, eles acabam tocando em você.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/estupros-ameacam-turismo-na-india-8039079#ixzz2Pk4gAgOR
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