Descobertos há cinco anos na África do Sul, os fósseis do Australopithecus sediba (A. sediba) traziam mais perguntas do que respostas. A espécie, cujo nome significa “bom” ou “fonte natural” no idioma sotho, parecia uma transição entre o seu gênero e o Homo. O sorriso e as mãos lembram muito os nossos. Ombros e braços, porém, remetem aos chimpanzés. O mistério, porém, reside no jeito de caminhar - de tão peculiar, julgava-se quase incompatível com um bípede. Agora, seis artigos, publicados pela revista “Science”, exploram mais a ambiguidade destes indivíduos.
-->Ironicamente, os Sedibas descobertos erraram a marcha. Uma fêmea, acompanhada de um jovem e outro indivíduo de sexo desconhecido, do qual só foi encontrada a tíbia, caíram em um abismo dois milhões de anos atrás. Apesar da queda e do tempo, os esqueletos têm calcanhar, tornozelo, joelho, quadril e lombar preservados, o que permite a reconstituição de como a espécie se deslocava.
Na nossa espécie, o calcanhar conta com um base ampla e plana, permitindo o equilíbrio do corpo. No Sediba, este osso era pequeno e torcido, o que o obrigava a revirar-se a cada passo. Para não cair, era preciso girar o pé arqueado para dentro, conseguindo assim um apoio. Este movimento permanente provocava desgaste dos joelhos e quadris.
Um desafio dos pesquisadores é descobrir se esta caminhada peculiar restringia-se à fêmea estudada, que poderia ter se machucado antes ou durante a queda, ou se é, de fato, característica da espécie. Já se sabe, porém, que os Sedibas eram bípedes. Esta certeza vem da análise de outros ossos, inclusive sua coluna vertebral.
Os braços longos e os ombros mostram que a espécie tinha como hábito escalar rochedos e árvores. As mãos, porém, lembram mais as espécies do gênero Homo do que as de chimpanzés e outros australopitecos.
- Os novos estudos nos apontam outra visão da espécie - revela o paleontólogo Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand (África do Sul), autor principal do estudo sobre a locomoção dos Sedibas. - Parece um mosaico anatômico, apresentando uma série de complexos funcionais muito diferentes daqueles que pensávamos, seja de australopitecos, seja dos primeiros indivíduos do gêneroHomo.
O sorriso do Sediba também é enigmático. Seus dentes lembram mais os nossos do que os vistos em outros animais primitivos.
Mais do que uma semelhança, este detalhe levanta uma polêmica entre os cientistas. A análise da arcada dentária identifica traços herdados pelo ser humano moderno de outras linhagens. O sorriso tão familiar do Sediba poderia torná-lo mais próximo dos primeiros Homo do que Lucy, a Australopithecus afarensis que, acredita-se, seria a mais “moderna” dos australopitecos.
- Há pequenas diferenças na coroa dentária (entre o Sediba e o homem) - explica o paleontólogo William Kell, da Universidade do Arizona. - Aplicar esta metodologia em hominídeos que têm milhões de anos é muito difícil.
No meio do caminho tinha um fóssil
O Sediba não é ancestral do Homo. Por isso, não pode ser o elo perdido das espécies. Na verdade, eles são contemporâneos. O fóssil mais antigo do homem é de 2,4 milhões de anos atrás e foi encontrado na Etiópia.
— Trata-se de uma espécie única e muito interessante, mas que veio tarde demais para ser nossa ancestral — ressalta Brian Richmond, da Universidade George Washington.
Berger, porém, não descarta que a mandíbula humana mais antiga seja, na verdade, propriedade de um Sediba. Segundo ele, este osso não teria diferenças muito marcantes entre as duas espécies. Ainda que não seja ancestral, a espécie certamente ajuda a entender a evolução do homem.
O paleontólogo já planeja seu retorno ao sítio de Malapa, na África do Sul, onde encontrou o Sediba, atrás de novos calcanhares. Foi Matthew Berger, o filho de Lee, quem encontrou o primeiro fóssil daquela espécie, em 2008. Matthew, de 9 anos, tropeçou em um osso fossilizado e alertou o pai. Fonte:Oglobo.
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