terça-feira, 13 de agosto de 2013

Conversa entre traficantes pode inocentar pastor Marcos Pereira

O Fantástico teve acesso ao conteúdo de uma conversa entre os traficantes Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP. Aconteceu no dia dez de maio, no presídio de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná.
Para a polícia, foi desse encontro entre os bandidos, autorizado pela Justiça, que saiu a ordem para os ataques ao grupo AfroReggae, no rio de janeiro.

Os instrumentos de percussão nunca mais serão usados. As perfurações de balas vão ficar como marcas de uma sucessão de atentados que tentaram calar o AfroReggae.

O projeto de inclusão social através da arte, que existe há quase 20 anos, é um dos mais atuantes do Rio.

Em pouco mais de um mês, a ONG foi vítima de incêndio criminoso e alvo de tiros, num total de quatro atentados no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, áreas pacificadas.

O coordenador da entidade, José Junior (foto ao lado), disse que havia sido ameaçado pelo tráfico e chegou a anunciar o encerramento das atividades no Alemão. Mas voltou atrás.

A explicação para a onda de violência contra o AfroReggae pode estar no presídio federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná.

Segundo uma investigação da delegacia de combate às drogas do Rio, a ordem para os ataques teria surgido de um encontro entre dois dos maiores traficantes do país, que cumprem pena em Catanduvas: Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar e Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP.

O encontro dos dois foi no dia 10 de maio. Fernandinho Beira-Mar, que cumpre pena em uma galeria especial, monitorado 24 horas, pediu à Justiça para ter contato com outros presos, porque estaria se sentindo sozinho. E foi autorizado. Beira-mar recebeu a visita de Marcinho VP no parlatório. Tudo que foi dito ali, ficou gravado em áudio e vídeo. O Fantástico teve acesso exclusivo, à íntegra do conteúdo da conversa.


Na conversa, separado por um vidro e por telefone, Marcinho diz que está tentando transferência para um presídio estadual. E Beira-Mar dá força, se referindo a outros presos.

Beira-Mar: O que eu penso, você saindo daqui para um estadual, já é uma vitória, de lá você consegui ir para outro lugar igual o baby…O baby não, o Dinho está tentando ir para o Maranhão.

Marcinho VP: Eu também estou com um “corre” no Maranhão também, minha advogada está fazendo…

Fernandinho oferece ajuda.
Na conversa com Marcinho, Beira-Mar dá outra sugestão.

Beira-Mar:O pastor Marcos não tem igreja lá?
Marcinho VP: Tem. Teve um problema com ele lá agora, lá no Rio. Prenderam ele lá no Rio.
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O pastor Marcos Pereira é líder da igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias. Ficou conhecido por ajudar, com a religião, a recuperar dependentes químicos e criminosos.
Ele está preso há três meses, acusado de estuprar fiéis. E é investigado por crimes de homicídio, associação ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

José Júnior foi um dos que denunciaram o pastor.
Nós fizemos denúncias sobre ele, uma pessoa que estuprou. Que há 20 anos havia uma suspeita, só que ninguém teve coragem de fazer essa denúncia. Eu e outras pessoas tivemos essa coragem e fizemos isso, e sempre soubemos que sofreríamos retaliações, cara”, afirma José Júnior.

Na conversa entre os dois traficantes, Marcinho VP acusa José Júnior de ter forjado as denúncias.

Marcinho VP: vítima daquelas acusações levianas lá, que estava lá, do Júnior.Compraram um montão de testemunhas para dar depoimento contra ele…”

Beira-Mar reforça a acusação contra José Júnior. E diz a frase que chamou a atenção da polícia.

Beira-Mar: Tipo assim, compraram, compraram é eufemismo, foi o Juninho que estava por trás disso né. Tinha que mandar um salve lá para ele.

Segundo a polícia, a expressão ‘salve’, na linguagem dos bandidos, significa ataque, represália.

Dezesseis dias depois dessa conversa aconteceu o primeiro ataque ao Afroreggae. No dia dois de agosto, os dois foram punidos com dez dias de isolamento.

O promotor que ajudou na condenação de Marcinho VP diz que a autorização para o encontro de dois bandidos tão perigosos é sempre um risco.

“Talvez tenha se menosprezado o poder que esses dois ainda ostentam. Se na unidade mais segura que nós temos no Brasil eles conseguem fazer o que fizeram, quem dirá o que fariam se estivessem em qualquer outra unidade, em qualquer outro estado do Brasil”, destaca o promotor André Guilherme Freitas.

O delegado que investiga os atentados foi até Catanduvas ouvir Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP.

O Fantástico também teve acesso aos depoimentos.

Beira-mar disse que não deu qualquer ordem para os atentados porque não tem esse poder e porque não teria motivos.

Marcinho VP também negou envolvimento nos atentados. E disse que entendeu a expressão ‘dar um salve’ como mandar um alô, um recado para que José Junior e o pastor Marcos parassem de brigar.

A polícia não acredita nessas versões. “Nenhum chefe de favela realiza qualquer ação sem que o chefe da facção autorize esta ação. Pelo que a gente tem informações, o chefe da facção, como, dessa facção, seria o Marcinho VP, diz o delegado Márcio Mendonça.

O advogado do pastor Marcos Pereira diz que a conversa entre os traficantes é uma prova da inocência do seu cliente.

“Para mim é uma prova contundente, cabal, de que infelizmente o pastor Marcos Pereira da Silva está sofrendo injúrias. Eu estou requerendo inclusive que este acusador-mor, José Junior, seja ouvido pela Justiça”, declara o advogado Luiz Carlos Silva Neto.

Junior nega que tenha forjado testemunhas como disseram os traficantes. “Quando eles falam que a gente está pagando, a informação não é uma informação correta. Então eu acho que existe também interesses de outras pessoas, de colocarem eles contra a gente”, diz.

E diz que teme pela vida de jovens ajudados pelo AfroReggae.

“A situação hoje é uma situação muito difícil, muito delicada, e não é delicada para mim, é delicada pra quem é do AfroReggae e mora lá dentro”, destaca. Fonte: Site do Fantástico via Folhagospel

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