Tudo começou em 7 de outubro, quando Prince foi preencher o turno para seu irmão em uma loja de diamantes em Lahore. Durante o seu turno, Prince, que tem um mestrado em Literatura Inglesa, diz que encontrou uma cópia de um livro polêmico chamado “Perguntei à Bíblia por que os Alcorões foram incendiados”, e começou a lê-lo e fazer anotações em seu interior.
O livro foi escrito por Maulana Ameer Hamza (o líder do Jamat-ud-Dawa, braço político da organização jihadista Lashkar-e-Taiba, que assumiu a responsabilidade pelos atentados de Mumbai).
Enquanto Prince estava lendo o livro, um colega muçulmano, Abid Mehmood, o viu e se ofendeu. No dia seguinte, Mehmood foi para a delegacia de polícia local e alegou que Prince tinha "marcado várias páginas… com palavras abusivas contra o Profeta do Islã".
Sabendo que tinha sido acusado, Prince fugiu. No entanto, ele afirma que não fez nada de errado. "Achei o livro cheio de erros, dando informações incorretas sobre o cristianismo", disse ele. "Então, escrevi comentários com referências bíblicas em vários lugares, mas nenhuma linguagem abusiva foi usada”.
Após a fuga de Prince, o seu irmão, mãe, tia e tio foram presos e disseram que não seriam liberados até que ele voltasse. Ouvindo acerca da prisão de sua família, Prince voltou para casa no dia 6 de novembro.
Já na delegacia, Prince disse que foi informado para manter em segredo que ele havia sido preso sob a acusação de blasfêmia, por medo de ataques por parte de outros prisioneiros. Mas, também disse que a polícia o torturou durante a noite.
"A polícia estava prestes a me matar depois que eu me entreguei a eles, mas Deus me manteve seguro por Sua graça. Quando retornei aos meus sentidos [depois de um grande período de tortura], disseram-me que uma máquina pesada iria rolar sobre minhas coxas, o que seria não só doloroso, mas me tornaria permanentemente impotente. Em seguida, o vice-superintendente da polícia empurrou o cano de uma pistola na minha boca e disse-me para confessar que eu tinha escrito palavras abusivas no livro. Ele informou que iria contar até três e que se eu não confessasse, iria puxar o gatilho."
Prince acrescentou que, em uma ocasião, ele foi levado para fora e informado que estava livre para ir embora. "Mas eu sabia que eles estavam mentindo e iriam atirar por trás se eu saísse. Eu disse a eles: se vocês quiserem me dar um tiro, atirem em meu peito e não por trás. Eles pararam de me torturar quando sentiram que não seriam capazes de abalar a minha decisão.”
A advogada de Prince, Aneeqa Maria, diretora do The Voice Society, disse ao World Watch Monitor que a polícia estava legalmente obrigada a apresentá-lo perante um tribunal no prazo de 24 horas, após sua primeira prisão, mas que não o fizeram por medo de começar um motim.
"Todos os dias, dezenas de homens barbudos lotam a sala de audiências onde Adnan Prince deveria ter sido apresentado, de modo que a polícia manteve-se persistente", informou Aneeqa Maria. "Depois de sua rendição, um policial me falou sobre a pressão que a polícia tinha sobre si, vinda do Jamat-ud-Dawa, que queria executar a lei e a ordem com suas próprias mãos."
Prince foi levado perante o tribunal depois de três dias e, em seguida, transferido para Cadeia do Distrito de Lahore, onde está confinado sozinho em uma pequena cela. Ele disse que estava sendo mantido afastado de outros presos para sua proteção. Seu julgamento ainda não começou. Entretanto, há uma petição para que ele seja libertado sob fiança.
Casos semelhantes a esse tornaram-se conhecidos por levar até sete anos para o julgamento. Talvez o caso em curso mais famoso de "acusação de blasfêmia" é o de Aasiya Noreen (também conhecida como Asia Bibi), que foi condenada à morte por insultar o Islã em 2009, e ainda permanece na cadeia, aguardando a apelação.
Os cristãos perseguidos
Antes da rendição de Prince, uma carta foi enviada a uma colônia cristã em Wassanpura, Lahore, perto de onde Prince viveu, dizendo: "Cada família cristã, nesta área, está sendo intimada a desocupar imediatamente sua casa. Desta vez, você está verbalmente advertido, mas da próxima vez você será queimado e morto, dizia a carta”.
A carta foi assinada por Ashiqaan-Rusool (Devotos do Apóstolo), um dos quatro grupos islâmicos da região.
Um dos cristãos na colônia, Javed Masih , apresentou uma denúncia à polícia local. "Depois que Adnan e sua família fugiram de suas casas, esses extremistas estavam procurando uma desculpa para nos atacar. Por esta razão, cerca de 12 famílias fugiram, enquanto várias outras famílias enviaram suas mulheres a seus parentes, com medo de um ataque dos muçulmanos’.
A polícia se posicionou do lado de fora da colônia por uma semana, e depois se retirou. Após isso, Masih apresentou uma petição ao tribunal para uma proteção contínua. Em 25 de novembro, o juiz ordenou à polícia que “restabelecesse a proteção". Fonte: Portas Abertas
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