quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Fome atinge 20 mil refugiados palestinos em acampamento sírio

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As quase 20.000 pessoas que vivem no acampamento de refugiados palestinos de Yarmuk, em Damasco, sitiado desde junho, buscam alimentos de forma tão desesperada, que muitas acabam comendo animais abandonados, e algumas mulheres são obrigadas a se prostituir.

"Aqui muitas pessoas sacrificaram e comeram cachorros, gatos e inclusive um macaco", conta Ali, um morador de Yarmuk que estudava na universidade quando explodiu, em março de 2011, a rebelião contra o regime sírio.

"Um homem que matou um cachorro não conseguiu encontrar carne para comer em seu corpo, porque até os cachorros estão morrendo de fome", declarou à AFP através do Skype.

Yarmuk nasceu como um acampamento de refugiados palestinos e se converteu gerações depois em um movimentado bairro comercial e residencial, no qual sírios e palestinos conviviam.

Quando a guerra chegou a Damasco, no verão de 2012, milhares de pessoas de outras partes da capital síria fugiram a Yarmuk, que também acabou se transformando em ma zona de guerra com a chegada de membros da rebelião, à qual alguns palestinos se uniram.


Em junho de 2013 o exército impôs um bloqueio total de Yarmuk. A maioria dos residentes fugiu, mas restavam 18.000 civis, segundo dados das Nações Unidas.

Sete meses depois, os preços dos remédios e dos alimentos dispararam, e um quilo de arroz pode chegar a 100 dólares, segundo os moradores.

"A situação é tão desesperadora que as mulheres vendem seu corpo aos homens que armazenaram comida antes que o local estivesse sitiado", explicou Ali.

A escassez de alimentos provocou a morte de 78 pessoas, 61 delas nos últimos três meses, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Leite em pó e vacinas
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNRWA), encarregada de suprir as necessidades dos refugiados palestinos, só conseguiu enviar dois comboios ao interior do acampamento nos últimos meses.

A ajuda enviada, que inclui "leite em pó para bebês, vacinas da pólio para as crianças e alimentos, é escandalosamente inadequada para cobrir as sérias necessidades destes civis", declarou Chris Gunness, porta-voz da UNRWA.

O governo sírio garantiu no dia 18 de janeiro que facilitará a chegada de ajuda humanitária, mas a UNRWA "está extremamente decepcionada porque (...) as garantias dadas pelas autoridades não foram apoiadas por ações em terra", declarou Gunnes à AFP.

Anuar Raja, porta-voz da Frente Popular para a Libertação da Palestina - Comando Geral (FPLP-CG), que apoia o regime sírio, culpou os rebeldes pela situação do acampamento.

"Havia um acordo para que os palestinos armados no acampamento pressionassem os não palestinos armados para que fossem embora", declarou Raja, em referência aos rebeldes.

Já Wisam Sbaaneh, membro da Fundação Palestina Jafra, culpou o FPLP-CG e o exército.

"As pessoas pedem leite em pó para as crianças e vacinas. Para que os combatentes vão querer leite em pó?", se perguntou Sbaaneh, ironizando uma declaração da FPLP-CG afirmando que os civis eram reféns da oposição armada.

O diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, insistiu na necessidade de levantar completamente o cerco.

"Fazem com que os civis sofram inanição para forçá-los a se voltar contra os rebeldes. Atacar zonas nas quais há civis é um crime de guerra", declarou à AFP.

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