Integrantes da Arca se encontram no Parque 13 de Maio, onde os cultos acontecem aos sábados
Religiosidade »Uma igreja diferente se reúne no Centro do RecifeIntegrantes da Arca se encontram no Parque 13 de Maio, onde os cultos acontecem aos sábados
O peito da jovem de 24 anos é tomado por uma tatuagem com dizeres na cor preta. “Pregai o evangelho” é a mensagem pintada para sempre no corpo. Tomou a decisão de “riscar” a frase há quatro anos, depois de ter contato com um grupo religioso do Recife. Antes desse “encontro” com o divino, a maquiadora Lucikelma Max conta que passava as noites do sábado em bares. Naquela época de “farras”, como costuma falar, a igreja evangélica que povoou seu universo infantil já não fazia mais parte dos planos de adulta.
São 19h30 do sábado e uma dezena de jovens, entre eles a maquiadora e seu filho Zion, canta em círculo músicas que enaltecem Jesus Cristo e os benefícios da vida religiosa. A louvação acontece em um pouco movimentado e escuro Parque 13 de Maio, no centro do Recife. As vozes são acompanhadas de instrumentos como violão, percussão e pandeiro. Pessoas que não fazem parte do movimento e caminham no parque costumam se aproximar. Não são apenas as tatuagens, alargadores, piercings, cabelos e roupas dos fieis que chamam a atenção. O “sermão” do pastor Caveira, como é conhecido o skatista Daniel Oliveira, 36, é todo baseado na interpretação bíblica, mas é repleto de gírias. Diante da descontração impressa na fala, lembra algo como uma conversa entre jovens amigos num bar. “Meus parentes estranharam eu continuar usando as mesmas roupas depois da Arca. Mas hoje sou um exemplo para eles”, diz a maquiadora.
Ação de Rua e Cultura Alternativa (Arca) é o nome da igreja que surgiu em 1999 a partir da ideia de cinco skatistas, entre eles Caveira, cujo nome surgiu de sua silhueta esguia. Seus seguidores dizem preferir a liberdade imposta pelas ruas às paredes dos templos tradicionais. Contam que sentem-se mais à vontade. “O que importa é a espiritualidade e não o estereótipo”, afirma Caveira, formado em teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil e único pastor da Arca no Recife.
Sem discriminação
A estudante Priscila Cavalcanti, 23 anos, está grávida do primeiro bebê. Vai aos cultos da Arca todos os sábados à noite com o marido. Naquele final de semana, veste uma bermuda curta, usa um piercing no nariz e tem uma maquiagem marcante. “Cresci no evangelho, mas desisti por um tempo por não me encontrar nessas igrejas que já existem há muitos anos. Não sou diferente de ninguém, mas me sentia discriminada. Na minha visão, ser religioso é ser útil a quem precisa. E isso está além do templo”, conta, revelando uma tatuagem na coxa direita com os dizeres “Glória somente a Deus”. É seu primeiro desenho
A estudante Priscila Cavalcanti, 23 anos, está grávida do primeiro bebê. Fotos: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press |
Da dependência para os cultos
O universitário Ánderson Assunção, 32 anos, faz licenciatura em física na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e engenharia na Estácio do Recife. Dos 15 aos 18 anos, no entanto, sua rotina era bem diferente. Usava bebida alcoólica todos os dias e, embriagado, costumava discutir com a mãe. “Não tinha qualquer perspectiva na vida. Vivia em uma espécie de sindicato de bêbados. Não tinha um pai como referência. Estava sempre em atrito com minha mãe. A igreja me acolheu”, lembra.Ánderson é tido como exemplo de superação no Arca. “Conheci a igreja através de Caveira. Também era skatista. Tinha uma visão de cristianismo diferente. Achava que seria julgado pela aparência, pelo modo de agir. Entendia que a pessoa não podia jogar bola ou andar de skate para estar na igreja”, lembra. Os finais de semana do universitário atualmente estão comprometidos com os cultos dos sábados. Assim como ele, são os tatuadores, grafiteiros, designers, fotógrafos, skatistas, surfistas e outras “tribos” que simpatizam com a Arca. Fonte: Diário de Pernambuco
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