segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ovos de 'dragões': Ninho de pterossauros de 120 milhões de anos é achado na China

Uma terrível tempestade que assolou o Noroeste da China há 120 milhões de anos sepultou para a posteridade um dos mais preciosos tesouros que um paleontólogo poderia encontrar: ovos, praticamente intactos, de pterossauros — os terríveis répteis alados que viveram na época dos dinossauros e dos quais, até hoje, se sabe muito pouco. Junto deles, centenas de fósseis extremamente bem preservados dos animais. A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores brasileiros e chineses e revela novidades sobre sua reprodução, seu comportamento em grupo e a interação com outras espécies.

Os ovos e os fósseis achados teriam sido preservados com o desabamento de areia e lama durante a enxurrada pré-histórica. Cerca de 40 indivíduos já foram “montados” com os milhares de ossos desenterrados na região, revelando uma nova espécie do réptil alado, até então desconhecida, e agora chamada de Hamipterus tianshanensis — uma referência às montanhas Tian Shan, localizadas próximo ao sítio paleontológico. Os pterossauros, que viveram entre 225 milhões e 65 milhões de anos atrás, podiam ser tão pequenos quanto um pombo atual ou ter até 12 metros de envergadura das asas.

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Animais viviam em colônias
Até hoje, a comunidade científica conhecia apenas quatro ovos de pterossauros, e todos eles estavam completamente achatados. Por isso mesmo, os ovos são considerados os itens mais importantes da descoberta. E revelam características muito diferentes dos de aves encontrados atualmente. Sua casca tinha uma camada externa calcária fina e dura, e por baixo dela havia uma membrana mais macia.

— Um ovo de galinha, quando é amassado, quebra-se em vários pedaços — compara Taissa Rodrigues, professora da Universidade Federal do Espírito Santo e coautora do estudo sobre as escavações chinesas, publicado ontem na revista “Current Biology”. — O do pterossauro é maleável. Parece-se um pouco com os atuais ovos de serpentes.

Mesmo com essa resistência, os ovos se quebrariam, caso os pterossauros se sentassem sobre eles. Para aquecê-los sem quebrar, as fêmeas os enterravam.

— Como havia muitos ovos no local, acreditamos que os animais viviam em colônias — destaca Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional, da UFRJ, que também assina o estudo. — Não sabíamos se isso ocorria porque nunca houve uma descoberta de tantos fósseis juntos. Já vimos muitos na Argentina, mas eles estavam mais dispersos no terreno.

O grupo de pterossauros chineses teria morrido devido a uma grande tempestade, que agitou o fundo da areia e misturou os indivíduos com os ovos.

— Foram os sedimentos finos que permitiram a boa preservação dos ovos — destaca Taissa.

A partir da análise dos crânios dos fósseis encontrados, os pesquisadores conseguiram diferenciar os machos das fêmeas — eles tinham uma crista e uma estrutura craniana mais robustas do que as delas. Quanto maior a crista, maior era a atração sexual, cogitam alguns pesquisadores.


Ao contrário do que se pensava, a crista estava presente no macho desde a juventude, antes mesmo da idade de reprodução. Mas ainda não se sabe se o tamanho mudava durante o envelhecimento do animal. A envergadura da asa dos répteis voadores encontrados era bastante variável, tendo entre 1,5 e 3,5 metros de comprimento.

— Os animais voadores têm esqueletos muito frágeis (eles são ocos, como os das atuais aves). É uma característica vantajosa para o voo, mas que dificulta a preservação dos fósseis — conta Taissa. — Por isso, encontrar um grupo de fósseis tridimensionais, e de indivíduos da mesma espécie, é muito importante.

Não foram encontrados fósseis de outros animais na mesma camada das escavações do sítio paleontológico. Portanto, não é possível saber que espécies conviviam com esses pterossauros. É possível que a colônia fosse mais isolada. Como a alimentação dos pterossauros era provavelmente baseada em peixes, eles deveriam viver próximos a rios ou a pequenas lagoas.
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Em busca de embriões

A equipe sino-brasileira continuará atuando no quebra-cabeça das escavações, tentando identificar novos indivíduos entre os milhares de ossos.

— Vamos procurar mais ovos, especialmente aqueles que poderiam ter embriões em seu interior —revela o líder do estudo, Xiaolin Wang, pesquisador do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia (IVPP), da Academia Chinesa de Ciências. — Também é possível descobrir outras espécies que viviam na região. Encontramos fósseis de dinossauros e tartarugas, mas em outras camadas, o que sugere que eles não existiram na mesma época. Fonte:

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