terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Procurador que denunciou Cristina Kirchner é encontrado morto em Buenos Aires




O procurador argentino Natalio Alberto Nisman, que denunciou a presidente Cristina Kirchner na investigação do caso contra o atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), foi encontrado morto nesta madrugada em seu apartamento em Buenos Aires. Nisman, de 51 anos, apresentaria na manhã desta segunda-feira a conclusão de sua denúncia contra a presidente. Segundo ele, Cristina teria encoberto o envolvimento de terroristas iranianos no ataque contra a Amia, num crime que permanece impune depois de 20 anos.

As primeiras informações davam conta de que o corpo de Nisman foi encontrado com perfuração na cabeça, compatível com uma arma de pequeno calibre, no banheiro de seu apartamento no bairro de Puerto Madero. O local estava trancado por dentro.

Por volta das 5h10m, o Ministério da Segurança emitiu um comunicado confirmando as circunstâncias da morte, e afirmando que ele tinha dez policiais federais à disposição para segurança pessoal.
Fontes judiciais revelaram ao jornal “La Nación” que no domingo à tarde a família tentou entrar em contato com Nisman, mas não conseguiu. Sua mãe foi até seu apartamento e bateu na porta. Não obtendo resposta, decidiu chamar um chaveiro. O corpo do procurador foi encontrado no banheiro, com uma pistola ao lado, que seria de sua propriedade.


Pelo Twitter, líderes da oposição expressaram consternação. Quatro horas após a confirmação da morte, nenhum membro do governo havia se manifestado.

Cómo se sigue ahora? Confirmada la muerte de un fiscal que investigaba al gobierno, se ratifican todas las sospechas. Mafia total!

— Silvana Giudici (@SilvanaGiudici) January 19, 2015

A investigação ficou sob responsabilidade dos procuradores Manuel Arturo De Campos e de Viviana Fein. Falando a repórteres no local, Viviana disse que, no momento, não irá levantar hipótese.

— Não posso dizer se foi suicídio ou não. Peço-lhes prudência — afirmou.

Mais tarde, o secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, disse lamentar a morte de Nisman, e afirmou que todo o trabalho feito por ele deve ser investigado.

— É possível acostumar-se com qualquer coisa, mas não a morte. A notícia me deu deu um estrépito enorme.

Sergio Berni, secretário de Segurança do país, disse que os indícios naturalmente apontavam para suicídio. Em entrevista à rádio América, ele afirmou que é necessário "esperar para que a Justiça corrobore".

Acusações

Nisman, que tinha duas filhas com a juíza Sandra Arroyo Salgado, iria aparecer nesta segunda-feira perante uma comissão da Câmara dos Deputados para apresentar o caso contra a presidente e vários de seus aliados.

Na quinta-feira, o governo argentino pôs sob suspeita o promotor, um dia após ele denunciar a presidente. Em 1994, uma explosão contra a Amia deixou 85 mortos e provocou danos estruturais em outros nove edifícios no bairro Once, dentro do distrito de Balvanera. O Hezbollah havia sido acusado do crime, mas em 2006 revelou que o Irã teria sido um possível mandante.

O chanceler Héctor Timerman, que também foi denunciado por Nisman, acusara o promotor de “investigar clandestinamente a presidente” em vez de se concentrar em investigar os suspeitos pelo atentado e de agir contrariado pelo afastamento de aliados seus da Secretaria de Inteligência argentina.

Timerman não foi o único do governo a voltar a artilharia verbal contra Nisman. O ministro do Interior, Florencio Randazzo, disse que “só um pervertido” pode imaginar que a presidente tenha fechado um “pacto de impunidade” para ocultar a responsabilidade do Irã. O chefe de Gabinete de Cristina, Jorge Capitanich, disse que o promotor faz parte de uma conspiração de “membros do Poder Judiciário, grupos de mídia, corporações econômicas, setores de Inteligência nacionais e internacionais que buscam desestabilizar o governo permanentemente com sua atitude golpista”.

A denúncia do envolvimento de membros do governo argentino conta com 300 páginas. Além de Cristina e Timerman, o promotor Nisman denunciou também o deputado Andrés Larroque, o líder sindical Luis D’Elia e o ativista Fernando Esteche. Eles teriam negociado com o Irã o fim das investigações em troca da venda de petróleo para diminuir o déficit energético argentino.

Em maio de 2008, Nisman pediu a detenção do ex-presidente Carlos Menem e do ex-juiz Juan José Galeano. À época, ele mantinha uma relação considerada bastante amistosa com Cristina e seu marido, o então presidente Néstor Kirchner, quem acusou o Irã formalmente na ONU com as investigações preliminares de Nisman. Cristina sugeriu uma investigação conjunta com o Irã, em 2013.Fonte: Jornal O Globo


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