segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Menor bebê no Brasil vai completar um ano

Nesta sexta-feira, 16, Carolina Antunes Terzis completa seu primeiro ano de vida. Nesta data querida, não vai haver contratação de bufê infantil, tema de princesa e ninguém de fora da família vai receber convites, por ordens médicas. Nem precisa. Difícil existir aniversário mais emocionante e festejado que o da guerreira Carol, nascida há um ano com o título de menor bebê do Brasil e quarto do mundo nesta condição.Ela já começou a receber os parabéns desde o primeiro minuto, por sobreviver ao parto prematuro, aos cinco meses de gestação. Com 360 gramas e 27 centímetros, a neném cabia na palma de uma mão.

Carol merece aplausos das comunidades médicas do mundo inteiro, que ligam pedindo autorização para citar o histórico da garotinha em artigos científicos. Os melhores especialistas oferecem tratamentos de ponta, a operadora de plano de saúde Unimed manda flores todo mês e o nome dela é citado em jornais da Grécia ao Japão. Segundo uma das médicas que cuidaram dela no Hospital Vila da Serra, onde esteve durante cinco meses e meio internada na incubadora, Carol chegou a lhe inspirar medo. Ela confessou aos pais da criança nunca ter sentido tanta vontade de viver vinda de um ser humano tão pequenino.

É um verdadeiro presente flagrar os inúmeros sorrisos de Carol, prenúncio de muitas felicidades e muitos anos de vida, que costumam ser cantados de forma automática no Parabéns pra você. Um dia de cada vez, a criança foi vencendo o diagnóstico de menor bebê do país. Na verdade, está até bem pesadinha. Suas bochechas realçam na moldura de cabelos cheios e bem pretos. Carol mede 68 centímetros e pesa 6 quilos, o que corresponde, como diz a avó Sônia Terzis, toda orgulhosa, a um saco de arroz e a outro de feijão. A menina gosta de ver TV, tem uma boneca e é fã da Galinha Pintadinha.

Vestida como uma princesa pela mãe, a psicóloga Alexandra Terzis, de 33 anos, que a aprontou com meia-calça branca e vestido cor-de-rosa rodado, a menina se derrete toda com a chegada do pai, o mecânico Thiago Fernandes Antunes Parreira, de 31 anos. “Quem é a menininha do papai?”, pergunta Thiago. E o pai logo começa a ralhar com a mãe, que quer conversar ao mesmo tempo com a filha. O casal “briga” para receber a atenção da menina, que nem se importa com o impasse gerado entre eles. Parece feliz e aconchegada no meio dos dois.

“Deus escolheu uma família bacana, que tem todo o amor e carinho para atender às necessidades especiais que nossa filha possa ter. Carol foi desenganada quatro vezes pelos médicos e só de estar viva já é um milagre. Estou muito feliz”, afirma Thiago, sem segurar as lágrimas. Segundo o pai, a filha já surpreendeu tantas vezes, que é capaz de superar a medicina a cada dia. “Só o futuro vai nos dizer”, completa. “Ela está evoluindo além do esperado”, confia a mãe, que acompanha todas as sessões de fisioterapia visual e motora da filha, três vezes por semana. Carol precisa aprender a firmar o olhar. Curiosa, quer ver tudo de uma única vez.

Alexandra sabe, porém, que ainda é cedo para avaliar possíveis sequelas no desenvolvimento de Carol. Embora vá fazer 1 ano no papel, Carol nasceu aos cinco meses. Pelo cálculo dos médicos, no dia 16 terá o desenvolvimento neurológico, fisiológico e cognitivo equivalente ao de uma criança de oito meses, como se espera de uma criança prematura. “Segundo os médicos, quando ela completar 2 anos as idades vão se equiparar. Só então vamos ter o diagnóstico exato”, explica a mãe.

Quando veio ao mundo, quase quatro meses antes do tempo, a recém-nascida não tinha os pulmões formados. As orelhas nem sequer haviam surgido. Sua gestação foi concluída fora da barriga da mãe. Carol recebeu alta levando para casa o balão de oxigênio para ajudar na respiração. Atualmente, a criança não depende de aparelhos nem de medicamentos para continuar crescendo. Toma apenas vitaminas. “Não tive coragem de devolver o (balão de) oxigênio para o plano de saúde. E se ela precisar?”, revela a mãe.

No mês passado, Carol apresentou uma crise de broncopneumonia, que já está sob controle. Como medida de precaução, passou a morar provisoriamente na casa dos avós, no Bairro Mangabeiras, que fica mais próximo ao Hospital Vila da Serra em relação ao Bairro Padre Eustáquio, onde reside o casal.

Segundo conta a avó, ao voltar ao apartamento para buscar uma muda de roupas, mãe e filha foram reconhecidas por uma vizinha do prédio, que acompanhou o caso pela televisão. “Só de ver a Carol bem, a vizinha começou a chorar aos prantos e contou rezar todos os dias pela saúde da minha neta”, conta. O avô de ascendência grega, Constantino Terzis, comerciante aposentado do ramo de calçados, completa: “Por onde passa, a menina abre portas. Os médicos se dizem honrados por tratar dela”.

A via-crúcis

Com previsão para vir ao mundo em fevereiro, o parto foi antecipado para novembro devido ao quadro de doença hipertensiva específica da gravidez (eclâmpsia) apresentado pela mãe. Alexandra fazia acompanhamento pré-natal todo mês e sempre teve pressão baixa, inclusive durante a gestação, nunca maior do que 11 por 7. Nas vésperas do feriado de 15 de novembro do ano passado, porém, ela conta que começou a apresentar dor de cabeça, que não passava com analgésico. Em uma semana, a pressão subiu para 24 por 13. Ao procurar a ginecologista, Alexandra teve uma convulsão no consultório. Já saiu desacordada para o parto, levada às pressas, de ambulância direto para a maternidade. Mãe e filha corriam risco de morrer.

Alexandra permaneceu no Centro de Terapia Intensiva (CTI) durante cinco dias e outros quatro internada no quarto. “Não me lembro se eu estava entubada ou o que aconteceu comigo. Apagou-se da minha memória. Só sei que deixaram ver minha filha no segundo dia e que eu fiquei muito triste. Chorei muito e me culpei de tudo. Os médicos ficaram com medo, porque minha pressão voltou a subir. Depois disso, não queriam mais me deixar vê-la”, revela Alexandra, que conseguiu amamentar Carol por 15 dias. “Pelo menos o colostro ela recebeu por meio de sonda. Depois disso, meu leite secou”, conta.

Desde o nascimento de Carol, a mãe abandonou o emprego e se dedica integralmente a cuidar da filha. Recusa o apoio de enfermeiras ou babás. “Esperei tempo demais (cinco meses na incubadora) para poder pegar na minha menina e ela já passou por muitas mãos. Agora é a minha vez”, define a mãe, mostrando de quem a filha puxou tanta coragem. Alexandra está hoje mais magra do que antes da sua primeira gravidez, embora confesse comer chocolate todos os dias. Ela não reclama de cansaço e só tem elogios para a filha. Conta que Carol dorme a noite inteira e tira um cochilo depois do almoço e do jantar, “o que é bom para ajudá-la a engordar”.

A mãe se diverte imitando os barulhinhos feitos pela filha, que está aprendendo a formar os sons depois de passar seis meses entubada, o que prejudicou as cordas vocais. Curte até o choro da pequena. “Ela é muito boazinha, mas chora quando é preciso!”, observa a mãe, coruja. “Agradeço a Deus todos os dias por ter as minhas duas meninas vivas”, desabafa Thiago. Apesar de ter segurado sozinho pelo menos duas das quatro vezes em que Carol foi desenganada pelos médicos, evitando contar a verdade para a esposa debilitada, o pai não perdeu o jeito espontâneo e alegre.

Durante a internação, Carol sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), uma enterocolite necrosante e uma displasia pulmonar. Quando ele chega em casa tarde da noite, depois do trabalho, a menina e a mãe procuram a companhia de Thiago com o mesmo jeito de olhar. “Ela fica toda serelepe com o pai. É verdade!”, comenta feliz vendo a filha ganhar carinhos e ser jogada para cima, sem ter mais medo de quebrar como uma boneca de louça.

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