quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Governo angolano fechou ou demoliu 60 das 78 mesquitas, mas nega perseguição

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A comunidade muçulmana de Angola sofreu um duro golpe após o governo ordenar o fechamento da maioria das mesquitas do país, sob a justificativa de que os centros de culto estavam ilegais. As autoridades estão sendo acusadas de banir o Islã por pressão da Igreja Católica, diante do aumento da conversão de fiéis, e de retirar dos muçulmanos um direito sagrado: um local para rezar. O governo angolano, no entanto, nega perseguição religiosa. Das estimadas 78 mesquitas no país, 60 tiveram as portas fechadas - exceto as da capital, Luanda - e algumas até foram demolidas, segundo o líder da Comunidade Islâmica de Angola (CIA), David Alberto Já. Ele afirma que o cerco começou em 2006 e ganhou força nos últimos anos com o endurecimento dos ataques de líderes católicos e políticos ao Islã, sob a argumentação de que a religião representa uma ameaça à cultura local.

 - Padres e bispos apareceram na televisão cobrando do Estado uma medida. E a ministra da Cultura afirmou recentemente que o Islã é uma ameaça para a matriz cultural do país, que é cristã - afirmou ele ao GLOBO, de Luanda. A primeira comunidade islâmica de Angola foi fundada em 1978, e atualmente há 900 mil muçulmanos, de acordo com estimativas de Alberto Já.

 O angolano lamenta o fato de que até hoje a religião não tenha sido reconhecida na ex-colônia portuguesa, que é a segunda maior produtora de petróleo da África. A maioria dos 18 milhões de angolanos é católica.
- O Islã não é uma seita. É uma religião como a cristã - protesta Alberto Já. Após uma enxurrada de críticas, Angola admitiu na sexta-feira ter rejeitado o registro de uma série de grupos islâmicos. Mas alegou que eles não estavam em conformidade com as leis nacionais, ressaltando que a medida afetou também seitas não muçulmanas. Ao todo, 194 instituições foram rejeitadas. Ativistas de direitos humanos condenaram a medida. - Até onde eu saiba, a Angola é o primeiro país no mundo que decidiu banir o Islã - disse Elias Isaac, diretor da Open Society Initiative of Southern Africa (OSISA). - Isso é uma loucura. O governo é intolerante a qualquer diferença. O chanceler Georges Chikoti considerou a situação um “mal-entendido”. E ressaltou que a Constituição angolana defende o direito à liberdade religiosa, mas exige que os grupos cumpram critérios legais para serem reconhecidos como igrejas oficiais. - Não houve nenhum muçulmano perseguido - explicou Chikoti. - Não existe uma política do governo para perseguir uma igreja ou religião, isso foi uma interpretação da comunidade islâmica de Angola. Segundo Chikoti, nenhuma das oito denominações islâmicas inscritas havia registrado suas mesquitas como locais de culto. As organizações religiosas são obrigadas a solicitar reconhecimento em Angola. Precisam ter mais de 100 mil membros adultos e presença em mais de dois terços do território do país para serem legalizadas. Alberto Já garante que sua organização tem membros suficientes para atender aos requisitos. Segundo ele, os centros foram fechados sem qualquer aviso prévio. - Infelizmente esta tem sido a prática recorrente das autoridades. Elas não notificam os responsáveis das mesquitas, enviam a polícia e ordenam o fechamento sem dizer mais nada - reclama. Fonte: O Globo
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